Jean Beliveau tinha 47 anos e atravessava uma fase difícil da vida, com uma depressão. Decidiu então dar uma volta ao mundo… a pé. Saiu de casa, acompanhado unicamente com um carrinho de bebé e foi caminhando. Este domingo regressa
Dar uma Volta ao Mundo é um feito só para alguns. Aventureiros que de carro, de mota, de barco, de avião, de comboio, de balão ou até de bicicleta, tiram um período sabático e percorrem dezenas de países do Mundo, dos mais inóspitos aos mais afáveis, dos mais perigosos aos mais pacíficos.
Porém, dar uma Volta ao Mundo a Pé, isto é, literalmente a andar, é um facto excepcional!! De acordo com os registos, somente o norte-americano David Kunst o havia feito, num périplo de 23 mil quilómetros ao longo de quatro anos, entre 1970 e 1974, e que ficou marcado pela tragédia, quando o seu irmão foi baleado e morreu no Afeganistão.
No dia da partida, com a esposa
O caso de Jean Beliveau é ainda mais ‘unbelievable’. Não foram quatro, nem oito, mas onze anos a percorrer o mundo a pé, desde que saiu de sua casa, em Montreal, no Canadá, às 9 horas da manhã do dia 18 de Agosto de 2000.
Momentos marcantes
O ex-vendedor de luzes neon deixou para trás família e amigos, para esta viagem global, designada de ‘World Wide Walk’ e que teve como objectivo “promover a paz e a não-violência em prole das crianças de todo o Mundo”.
Beliveau recorda que saiu de casa para “mudar radicalmente a minha vida, queria deixar o mundo material e perceber o mundo real”. E acredita que, com esta odisseia, pode contribuir para o mesmo de forma positiva, sendo sintomático disso o encontro que teve com Nelson Mandela: “acho que juntos (com Mandela) podemos mudar o destino para um mundo melhor”.
Em Águas de Mouras, Portugal
Outros momentos marcantes Beliveau assinalou no seu portal: a entrada no México, “um novo mundo que se abre: exótico; choque cultural e fascinante”; quando esteve prestes a desistir, na Etiópia, “onde vivi sentimentos de solidão e desânimo”; ou até quando conheceu pessoalmente quatro galardoados com o Prémio Nobel da Paz.
Passagem em Portugal
Portugal não ficou de fora deste passeio e foi um dos 64 países por onde Beliveau andou: chegou a Lisboa a 2 de Dezembro de 2005, depois de Rabat, em Marrocos, e cruzou o país ao longo de 246 quilómetros.
Para além da capital portuguesa, onde foi entrevistado pelo jornal Público na Avenida da Liberdade (o que me permitiu conhecê-lo), Beliveau percorreu o Seixal, Águas de Moura, Vendas Novas, Montemor-o-Novo, Arraiolos e Elvas, tendo seguido viagem por Badajoz, Espanha, a 23 de Janeiro de 2006.
Mapa do caminho tomado por Beliveau
Por dia, ao longo destes 11 anos e quase dois meses, Believeau percorreu entre 30 a 40 quilómetros, acompanhado somente por um carrinho de bebé com três rodas, onde transportava mantimentos, roupa, ‘kit’ de primeiros socorros, tenda e saco cama.
Beliveau cumpre o objectivo este domingo [17 de Outubro de 2011], depois de ter percorrido 75.543 quilómetros e gasto 53 pares de ténis.