A doença tomou conta dele rapidamente, na solidão. Lia frequentemente seis horas, pela noite dentro; e quando lhe vinham pedir ordens para carnear o gado ou colher o trigo, afastava o in-fólio, e olhava como se não entendesse o que lhe estavam dizendo. […] Um gentil cavalheiro como aquele – diziam – não necessitava de livros. Que deixasse os livros – diziam – para os paralíticos e moribundos. Mas o pior ainda estava por chegar. Porque a doença de ler, uma vez tomando conta do organismo, enfraquece-o a ponto de o tornar fácil presa desse outro flagelo que habita no tinteiro e supura na pena. O desgraçado dedica-se a escrever.
Virginia Woolf, ‘Orlando’