Na literatura portuguesa contemporânea, não há escritor mais visceral do que Sandro William Junqueira. As suas personagens têm um corpo que se vê e ouve, sofrem da bexiga e dos intestinos, fazem da pele o palco do nojo ou do desejo. Não podia ser de outra maneira, porque este autor tem como lema, ou arte poética, a seguinte ideia: ‘Quero ouvir a pulsação cardíaca de cada frase.’ E pretende que a escrita provoque efeitos físicos: desconforto, excitação, gargalhadas, repulsa. ‘Tem de ser sempre uma coisa do corpo, porque nós somos corpo.’ A incomodidade que os livros possam causar ao leitor não o preocupa. ‘Como romancista, sigo a minha intuição, o meu instinto, gosto de levar as situações até ao limite. Nunca abdicarei disso. Os livros certinhos não me dizem nada. Serei sempre um autor de livros malcomportados.’
José Mário Silva, actual