O leitor lê o que quer, lê ao contrário até, e é sempre o último a escrever. Ama e zanga-se, com sentido de posse, porque, mesmo que não o conheça de carne e osso, o autor é seu. O autor sabe disso porque também é leitor: sabe que o leitor tem na cabeça um autor que só existe na cabeça dele. Então o leitor quer dar-lhe coisas, segredos mesmo. Recebi cartas de leitores que talvez mais ninguém pudesse ler. A bondade dos estranhos coexista com a violência dos estranhos, que coexiste com a intimidade dos estranhos. É assim. Há coisas radicais que só acontecem entre quem não se conhece.
Alexandra Lucas Coelho, revista P2