Por causa dos charutos, Félicité imaginava Havana [em Cuba] como uma terra onde não se fazia outra coisa a não ser fumar, e Victor circulava por entre os pretos numa nuvem de tabaco. Seria possível ’em caso de necessidade’ regressar por terra? A que distância ficava Pont-l´Évêque? Para ficar a saber, interrogou o senhor Bourais. Ele pegou no seu atlas, depois começou com explicações sobre as longitudes; e fazia um belo sorriso pedante perante o pasmo de Félicité. Por último, com a lapiseira, indicou, no recorte de uma mancha oval, um ponto negro, imperceptível, acrescentando: ‘Aqui está.’ Ela inclinou-se sobre o mapa; aquele emaranhado de linhas coloridas cansava-lhe a vista, sem lhe dizer nada; e como Bourais insistisse com ela para que lhe dissesse o que a embaraçava, ela pediu-lhe que lhe mostrasse a casa onde Victor morava. Bourais levantou os braços, espirrou, riu imenso; uma candura tal punha-o alegre; e Félicité não compreendia o motivo – ela que inclusivamente esperava ver o retrato do sobrinho, tão limitada era a sua inteligência!
Gustave Flaubert, ‘Um Coração Simples’