Com um relevante percurso internacional – foi finalista do Bes Photo em 2011, fez já várias exposições em Portugal, individuais e colectivas – o angolano Kiluanji Kia Henda, 35 anos, regressa agora a Lisboa com ‘A City Called Mirage’. […] O deserto interessa-lhe pela dimensão fictícia. Pela aparente ausência de História. Por ser uma espécie de folha em branco. E pelos possíveis paralelismos com os vazios das sociedades contemporâneas. ‘Se somássemos as casas vazias que existem na Europa, na China ou em novas cidades de África e da América do Sul, estaríamos perante um novo deserto. […] O que está em causa são os modelos de desenvolvimento que desejamos para as nossas sociedades. E quando pensamos nas cidades é ainda mais agressivo, porque não estamos a falar de uma tendência que contamina uma cidade: estamos a falar da criação da própria cidade’. A questão é que essas cidades acabam muitas delas por não ter vida urbana. ‘São cidades, em parte, quase vazias. Vislumbramos torres e outras obras de grandes atrevimento tecnológico, mas a cidade não funciona. Tem um lado decorativo. É um postal’.
Vítor Belanciano, jornal Público