A cidade do Porto tem um novo mapa e é dos mapas mais bonitos que já vi. […] É um documento que cristaliza a cidade nesta Primavera de 2015, porque é bem provável que, no próximo ano, este mapa já não sirva para nada, porque tudo ou parte do que ele contém já terá desaparecido. […] O Mapa Hazul Porto 2015 [mostra] espaços abandonados para expor a sua arte efémera. Ele sabe que, renovando-se a cidade, recuperando-se as portas e paredes velhas onde pintou mochos, santas e peixes, as suas pinturas vão desaparecer. Mas, como dizia há dias ao [portal] P3, isso não é verdadeiramente um problema, já que, por cada desenho que desaparece, nascem dois ou três. […] Eu, confesso, fico com pena que uma só destas imagens se perca. É algo doloroso dizer adeus ao mocho (ou será uma coruja?) sobre um céu estrelado na Travessa das Liceiras, àquela mulher-montanha verde da Rua de Ceuta, aos dragões-cavalos-marinhos da Rua de Trás e a todas as mulheres que ocupam hoje portas e paredes na Rua 31 de Janeiro, na Rua das Flores, nas Escadas do Codeçal, na Travessa das Taipas ou na Travessa do Ferraz. Gostava de pegar nelas todas e levá-las para casa. […] Haja mapas para preservar a memória destes dias em que um canto vazio é uma tela vazia à espera de uma obra artística.
Patrícia Carvalho, revista P2