Escrevo à mão porque tenho frio, vim para a varanda onde o sol queima e estão os livros de Herberto [Hélder]: um gato; uma serra eléctrica; nêsperas maduras; os morangos que trouxe da rua esta manhã. Estava na rua quando me ligaram, ia a caminho do correio com sacos cheios de lixo, plástico, papel, rodara tudo em busca de um ecoponto. […] Morreu o Herberto, e desligámos. Despachei o correio, desci ao Mercado da Ribeira para despachar o lixo, vi magrebinos ao lado de alentejanos, gente que acorda de madrugada sete dias por semana, deram-me cartões. Parecia que o mundo não tinha mudado.
Alexandra Lucas Coelho, revista P2