Em casa dos Canetti, o búlgaro era apenas falado entre as criadas de servir arregimentadas nas aldeias distantes. Nessa cidade natal de Elias Canetti, um desses lugares de encontros comerciais, culturais e linguísticos, podiam ouvir-se num só dia sete ou oito línguas diferentes. Lá viviam turcos, gregos, albaneses, arménios, ciganos, romenos e também alguns russos. […] Mas foi em búlgaro que [Elias] Canetti ouviu as primeiras histórias, cercado pelas raparigas da casa que, quando escurecia, se anichavam nos sofás junto das janelas e começavam a contar histórias de lobisomens e de fantasmas, cada uma mais horripilante do que a outra. O pequeno Elias ficava encolhido entre as criadas, a ouvi-las, até que os pais voltassem a casa.
jornal Público