Perguntei-lhe acerca do seu passado, e o modo como me respondeu foi como se remexesse numa arca poeirenta. Tinha crescido em Siebenburgen, viera para Berlim aos dezassete anos, tornara-se trabalhadora na Siemens e fora parar ao Exército com vinte e um anos. Depois do final da guerra sobrevivera à custa de diferentes trabalhos. Do seu trabalho como revisora em eléctricos, que já exercia havia alguns anos, gostava do uniforme, da paisagem que mudava constantemente e do chão que se movia debaixo dos pés. Não gostava de mais nada. Não tinha família. Tinha trinta e seis anos. Tudo isto foi contado por ela como se não falasse da sua própria vida, mas da vida de outra pessoa que não conhecesse bem e não lhe interessasse.
Bernard Schlink, ‘O Leitor’
Muito bom!