Entre 1926 e 1939, a população urbana na União Soviética cresceu de 26,3 milhões de pessoas para 55,6 milhões. Este impressionante êxodo […] resultou de um esforço colossal de industrialização de um país imenso e maioritariamente agrário. […] A construção de raiz [do complexo-urbano industrial] de Magnitogorsk constitui um exemplo notável deste esforço. […] A imaginada ‘cidade socialista do futuro’ não tinha uma finalidade meramente económica. Comportava um projecto de transformação social e humana mais radical, que pretendia inculcar em todos os habitantes os valores e atitudes socialistas e industriais. Magnitogorsk era ‘uma grandiosa fábrica para refazer as pessoas. O camponês de ontem torna-se o genuíno proletário lutando pelo mais rápido estabelecimento das fundações do socialismo’. Ao contrário dos conglomerados urbanos burgueses, ergueu-se não em torno de um castelo, igreja ou mercado, mas de uma fábrica. A moral antiquada da família tradicional seria abandonada, o que justificava que os complexos habitacionais em seu redor não possuíssem cozinha, individual ou colectiva, existindo apenas refeitórios. A mulher não deveria perder tempo em tarefas domésticas. Não havia lugar para trabalho visto como improdutivo.
Miguel Bandeira Jerónimo, jornal Público