O discurso e o debate, os temas e as questões que circulam rapidamente e em larga escala no espaço público são determinados pelos centros de irradiação de uma cultura acrítica e de massa, aquela que – escreveu uma vez um heterodoxo matemático e filósofo francês, Gilles Châtelet – se aplica a “devorar o Diferente, para cagar o Mesmo”. Ou seja, são os escritores subalternos, os animadores da televisão e os profissionais da idiotice impressa ou teledifundida, munidos de um vasto arsenal de instrumentos, que se tornaram os grandes mediadores. É através deles que se acendem as discussões políticas, ideológicas, culturais, à medida do exíguo espaço mental e da lógica do fait divers de onde nasceram. Por isso, parece que estamos sempre imersos numa tagarelice de filisteus. […] Há de facto demasiada mistura e indistinção entre a alta cultura e esta subcultura produzida ou induzida pelos media, de tal modo que deixámos de saber quem legitima quem e a que campo pertencem certos protagonistas.
António Guerreiro, ípsilon