Akureyri, 6 de Janeiro de 2019
Querida Y,
Não imaginas a quantidade de cartas que te escrevo, e não te envio. Esta proximidade que estabeleço contigo é a mais sublime ilusão: fico tão, mas tão feliz, por imaginar que sentes borboletas na barriga por leres o que nunca partilharei contigo!
Um destes dias, por exemplo, contei-te quando fui expulso no quinto ano de uma aula de português, concluída a leitura de uma composição deveras original; já noutro dia, vim disparado narrar-te o quão poética era a árvore por que passei, com os ramos repletos de bolas de futebol…
Não te relatei nada disto, assim como agora não te vou confidenciar o quão radiante fiquei por te ver sorrir, após te surpreender com um presente inesperado. Mesmo febril e com os olhos mirrados por uma constipação, as tuas bochechinhas dançaram e entrevi-as genuinamente livres e naturais, como dois amantes que se confiam um ao outro.
Haverá melhor razão para te continuar a escrever? Nunca saberei a resposta, visto que, tal como vês, não te envio o que agora te dedico. Limito-me a aproveitar as borboletas que sinto na barriga por imaginar que sentes borboletas na barriga quando me lês. E sou feliz!
Por ora me despeço, até breve, beijinhos do sempiterno teu,
Mário C. Brum
ps: um destes dias deveríamos levar as nossas borboletas a passear…
What a beautiful letter!
happy to read your feedback 🙂 thanks! PedroL