Descobri Janjevo no Verão de 2013, poucos dias depois de chegar ao Kosovo, para uma aventura profissional que duraria dois anos. Guiava à procura de nada, a ziguezaguear nos montes, embalado pelo calor seco de Junho. Num vale sem saída, da cinzentura de um casario que gritava miséria, destacava-se ao longe, imponente, lá no alto, a torre de uma enorme igreja, branca imaculada, com uma cruz no cimo. Num país de 800 mesquitas, uma igreja assim agarra-nos. Lá subimos pelas estreitas ruas de pedra até ao largo. –Catolic , catolic – diziam os miúdos a bater com as mãos no peito, à chegada dos portugueses curiosos. – Querem conhecer o padre? – Sim, claro! – Está a fazer a barba, vem já – num inglês mal arranhado. Don Mateo Palic chegou sorridente, bonacheirão e barrigudo. De uma hospitalidade tocante, mostrou-nos a igreja, abriu-nos a casa e sentou-nos à mesa, com café turco, rakia e bolos secos, para nos contar a história dos Janjevci.
Manuel Soares, jornal Público