Há, no modo como [o cineasta] Pawel Pawlikowski enquadra, sobretudo quando no plano as pessoas estão na dimensão de bustos, um efeito de incomodidade que diz bem da extraordinária percepção que o cineasta tem dos mecanismos cinematográficos. As pessoas nunca estão no meio, não são olhadas de frente, estão desviadas em relação aos dois eixos centrais da imagem (um quadro 1,375:1 – o tradicional formato Academy), muitas vezes à esquerda e em baixo, o que cria uma larga zona ‘vazia’ sobre os personagens. Esta zona, onde nada está de significante, funciona como um ‘peso’ simbólico do estado da realidade sobre as relações humanas.
Jorge Leitão Ramos, revista do semanário Expresso