A distância entre o que vemos e a imagem que trazíamos da cidade é imensa. E, no entanto, é ela que nos leva a tomar consciência de que essa imagem, tal como sucede em Nova Iorque, foi fabricada pelo cinema. No fundo, é ao cinema que se deve o cliché que ainda hoje é a imagem da cidade que os turistas procuram. Ora, Roma foi o primeiro destino turístico do mundo culto. O Grand Tour, que os artistas e aristocratas cultos europeus realizavam a partir da Idade Moderna, tinha como destino Itália e a descoberta de uma paisagem que, pela primeira vez na história da Europa, não era vista como coisa utilitária — boas terras de vinho, por exemplo, ou excelentes carreiras de mármore, como as que Miguel Ângelo apreciava — , mas como fonte de deleite estético. E Roma, com as suas ruínas pitorescas que são representadas e copiadas sem fim pelos pintores do norte da Europa, é não apenas causa de prazer estético, mas oportunidade sem igual para uma reflexão melancólica, já pré-romântica, sobre a vã glória dos impérios.
Luísa Soares de Oliveira, Ipsilon