O tempo passa como uma sombra.
Lourdes Castro, artista plástica
Logo no início da década de 60, Lourdes Castro encontra no tema do trabalho sobre as sombras a presença fixada a partir da ausência, a matéria para a concretização da obra plástica. A representação da sombra ficou inscrita nos tratados de Plínio, o Velho, que a reconheceu como traço dos primeiros desenhos artísticos. Os gregos desenhavam a sombra dos seus mortos queridos para guardar a presença do ausente. Também para Castro, a sombra será a possibilidade de captar em tempo real, e in situ, a presença que logo se desvanece, dando assim uma materialidade eterna aos amigos e ao mundo que a rodeia. […] Na representação das sombras apanhadas no traço da artista, directamente no momento em que ele se reflete no jogo da luz, captando assim gestos banais do quotidiano – seja através de retratos, de autorretratos, de objectos, seja pela captação de sombras da matéria viva e orgânica, como as plantas dos seus vasos e do jardim, impressas e reproduzidas em materiais, como a serigrafia, depois o pléxiglas colorido em cores fortes e mais tarde bordado em lençóis à mão que suspendem no ar os corpos de amigos nos seus gestos de sono – que reencontramos a enorme delicadeza e originalidade da sua obra.
Ana Soromenho, revista do semanário Expresso