Em 23 dias de cada mês, passo 120 minutos diários dentro de uma carruagem amarela e preta conforme a densidade de grafitos. Eu e milhares de pessoas. De todas as profissões, com horários mais ou menos flexíveis. Somos um batalhão. Com sol, chuva, vento, de madrugada ou de noite. Somos os viajantes trabalhadores. Uns olham fixamente para o telemóvel, outros despacham trabalho no portátil. Muito poucos lêem o jornal. Outros abrem a boca e fecham os olhos. Existem os que olham pela janela. Como eu, admirador confesso da genialidade arquitectónica que paira ao longo da linha. Pela viagem, uns vão saindo e outros vão entrando. Os maiores resistentes são os que vão “de ponta a ponta”. Aveiro-São Bento. Eu sou um desses.
Adriano Miranda, jornal Público