[Theodor W.] Adorno, que escreveu um célebre ensaio sobre a ‘regressão do ouvido’, e que foi um puritano até mais não em tudo o que diz respeito aos efeitos da ‘indústria cultural’ sobre a própria produção artística, gostaria talvez de saber que a maior parte das pessoas, hoje, sofrem de uma ‘regressão da visão’, não se ajustam ao modo e ao tempo de exibição pública de um filme numa sala escura. A impaciência manifesta-se muito antes do fim do filme: há sempre focos de luz na sala, vindos dos ecrãs dos telemóveis, gente que envia sms, que lê as mensagens, que vê as horas.
António Guerreiro, Ipsilon