Para o bem e para o mal, as viagens começam antes de se chegar ao destino. Antigamente uma marcha acontecia a um ritmo muito lento, o de um barco ou de um animal. Hoje, na linha reta que traçamos entre a partida e a chegada, o meio desaparece, embora ainda existam viagens muito lentas, e por isso mais atentas ao percurso. O destino é agora o sítio onde se começa, não o sítio onde se chega. Na viagem de avião entramos num túnel e do outro lado temos outro mundo. Durante 10 anos, ficamos numa espécie de sono, e de repente acontece uma aparição. Isso é mágico, interessante. [Antigamente] quando viajávamos organicamente podíamos ir vendo pequenas mudanças no nosso corpo. O corpo ia-se preparando para a grande aparição. O percurso da viagem era muito humano.
Gonçalo M. Tavares, revista do semanário Expresso