O lago vulcânico onde [a artista] Sara Bichão pensou que podia morrer no Verão é a peça-fantasma da exposição individual que a artista inaugurou na Colecção Moderna-Museu Gulbenkian, Lisboa. […] Como foi então o momento em que percebeu que era mortal? […] ‘Senti-me desligada de mim e as coordenadas que dão sentido ao corpo deixaram de fazer sentido. O nosso corpo torna-se uma partícula quando não está em movimento, porque ele quer gravidade e chão. […] A vertigem e a atracção para o fundo foram a primeira grande força. Depois, o pânico terá posto em causa a eficácia dos pés e das mãos. A ideia de que o perímetro circular da cratera era apenas um conceito e a noção de que a percepção da escola do lugar dependia totalmente da sua situação emocional e interior fragilizaram a sua capacidade de resistência.’ O desaparecimento era uma hipótese.
Isabel Salema, Ipsilon