KOKOKO! – Tongos’a
Kinshasa [capital do Congo] é uma cidade muito sónica e barulhenta. Todas as pessoas têm uma mensagem sonora a passar. É possível ouvir o sistema de som de uma igreja maluca à frente de clubes; os vendedores de rua têm sons e mensagens personalizadas para venderem os seus produtos. Por exemplo, há um vendedor de verniz para as unhas que faz um ritmo específico no vidro minúsculo das garrafas, há quem use megafones para vender crédito telefónico… Mesmo de olhos fechados consegue-se dizer quem é o quê, o que está ao teu redor e até onde. Este caos inspira-nos, tentamos organizá-lo e torná-lo mais musical.
Débruit, Kokoko!, Ipsilon
Já me tinham falado de uma banda completamente louca de paralíticos e deficientes motores que tocava uma espécie de blues diferente e que normalmente dormia nas ruas. Até que numa noite no bairro La Gombe [em Kinshasa, no Congo] lá estavam eles a pedir esmola junto a um restaurante caro, poiso habitual de expatriados brancos em Kinshasa. Comecei a acompanhá-los e a conhecer as suas famílias e os guetos onde viviam – foi arrasador. Mas havia música por todo o lado: reggae, hip hop, funk, rumba, estilos que misturavam com canções tradicionais e que tocavam em instrumentos construídos a partir disto e daquilo.
Renad Barret, produtor musical, revista do semanário Expresso