Estou no Vale do Silêncio [no istmo da Curlândia], no sopé mais a norte da duna de Parnidzio, um recanto sereno rodeado de outras dunas (a mais alta chega quase aos 70 metros), onde, para comemorar o restabelecimento da independência lituana, em 1991, repito, se colocou um marco no início do vale que também é ponto de partida para os aclamados trilhos cognitivos. Tão perto do Vale do Silêncio está o Vale da Morte, uma enorme extensão de areia, cortada aqui e acolá por vegetação rasteira, fundindo-se no azul do mar de um contorno pouco definido. Junto à praia, sobre a areia, projecta-se uma cadeira de dimensões biblícas para o lugar. Tendo como base também uma estrutura de madeira, a cadeira acolhe quatro degraus que conduzem a um, num plano superior, onde todos gostam de se sentar. Como um soberano, sob a sombra de uma cadeira de madeira com cinco metros de altura, qualquer viandante aprecia ficar abandonado por ali uns instantes, contemplando a força da natureza à sua volta, mas mais — e sempre —, o silêncio tão apaziguador deste cantinho da Lituânia.
Sousa Ribeiro, fugas