É quase impossível, caminhando por Matera, ignorar o passado daquela que ficou conhecida, em tempos e entre os italianos, como a cidade maldita. Um dos lugares pré-históricos mais antigos da Europa, testemunha da presença humana logo após o Paleolítico, Matera, a trogolodita, foi declarada vergonha nacional nos primeiros anos da década de 1950 pelo então Presidente do Conselho Italiano, Alcide de Gasperi, a que se seguiu a promulgação de uma lei que impunha a evacuação de 15 mil dos seus habitantes, deixando praticamente órfão, até 1990, o seu coração histórico. […] Nesse tempo, os habitantes de Matera viviam em condições de extrema pobreza, em grutas escavadas na pedra, sem ventilação, sem luz natural, sem electricidade e água corrente, famílias com nove e dez filhos, partilhando espaços já exíguos com burros, porcos e galinhas. […] Com pouco mais de 60 mil habitantes, a capital da região tantas vezes ignorada da Basilicata, para uns pobre, para outros remota, para outros, ainda, selvagem, é um exemplo de vida, morte e ressurreição – como um deserto (de habitantes) transformado num oásis (de turistas).
Sousa Ribeiro, fugas