Ser ridículo é ser socialmente inepto, e acho que com o tempo aprendemos a não ser ineptos, embora possamos continuar a ser, ou voltemos a ser, quando formos crianças outra vez. […] Uma das consolações da idade para um escritor é que aprendemos melhor a trabalhar com o tempo. Há escritores que são brilhantes nisso [e gosto daqueles] cujos segredos não compreendemos. […] Começa-se a escrever romances em ordem mais ou menos cronológica, numa sequência que se assemelha à da nossa vida, mas vamos percebendo que podemos escrever romances, como ‘O Sentido do Fim’, em que há longos hiatos de tempo que ocupam apenas um parágrafo. […] Um romancista não pensa se vai escrever de modo irónico, ou lírico, ou elegíaco, isso não está na nossa cabeça. O que interessa é saber o que é a história, qual é o ponto de vista, como avançar no tempo, é isso que perguntamos.
Julian Barnes, revista do semanário Expresso